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Saturday, 6 September 2025

 




Seething

The pain bubbles up, rising, rising, rising.
Like water in a pot too small, it boils over,
scalding me from within.
I am the darkest wound of my own existence.
Each heartbeat seems to brew a venom,
dripping through my body,
seeping into every fragile cell,
until even breath falters beneath its weight.

I gasp—
dying not in haste but in the slowest of measures,
as if there were some virtue in stretching out this torment.
And in this languid unravelling I watch:
the world spinning endlessly,
faces blurred with urgency,
gestures slipping from my grasp.
All of it feels strange,
distant,
unreal.

Does death come hand in hand with lightness?
Will the pain at last grow quiet?
Or will it remain when I am gone—
hunting another body to devour?

They once spoke to me of smiles.
Of tender plans, of dreams that lift and carry.
They told me of happiness, of gratitude,
of the gleam that lingers in the corner of an eye.
Yes, they spoke.
And I only ever heard the telling.

 

Kika

E agora, Kika?
O tempo acabou,
sua luz apagou,
a esperança sumiu,
o coração esfriou,
e agora, Kika?
e agora, você?
você que só trabalha
que faz pelos outros,
você que se esforça,
que ama, protesta?
e agora, Kika?

Está sem energia
está sem dinheiro,
está sem saúde,
já não pode correr,
já não pode dançar,
mudar já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o prêmio não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo quebrou
e tudo mofou,
e agora, Kika?

E agora, Kika?
Sua doce palavra,
seu momento de plantar,
sua vontade de fazer,
sua sabedoria,
sua lavra de ouro,
sua atitude,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para casa,
Casa não há mais.
Kika, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
o hino da revolução,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é dura, Kika!

Sozinha no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem uber nenhum
para te levar,
você marcha, Kika!
Kika, para onde?



Cebola

Esse mundo me dói.
Me dói e me corrói.

Como a ferrugem que comeu,
devagar e sem pressa,
o cano do banheiro
da casa velha que habito.

A casa que habito.
Não digo que vivo.
Porque a vida parece
que já passou.

Passou por mim como um vendaval,
me arrasou,
apesar de todas as forças
que juntei para me manter em pé.

Aprendi que 
o que é duro,
quebra mais fácil — 
Mas aprendi tarde.

Aconteceu o que mais temia:
eu amarguei.

Amarguei como cebola queimada.
Aquela que, ao invés de doce e gostosa,
fica dura e horrorosa,
e ainda deixa o gosto amargo
em tudo ao redor.


 



The place to be

Minha terra tem águas.
Águas doces, mornas e suaves.
Águas onde meu corpo desliza sem esforço.
Águas onde incontáveis outros vivem como eu.
Águas onde tudo faz sentido —
e a vida não é dura e arde sem parar.

Mas aqui,
ofegante, contorço-me na areia escaldante.
Olhos e boca escancarados.
Cada grão de areia se crava nas escamas de brilho prateado que cobrem meu corpo.
Alguns, por menores que sejam, cortam mais fundo que outros.
Cada movimento desloca meu peso, empurrando os grãos cortantes ainda mais contra a pele.

O chão irradia um calor que parece assar meu corpo indefeso de baixo para cima.
O ar tremula, transformando o horizonte em miragem que se desfaz no céu.
Que lugar sem sentido.

Minha terra tem águas!
Águas doces, mornas, suaves.
Águas onde meu corpo desliza sem esforço.
Águas onde incontáveis outros vivem como eu.
Águas onde tudo faz sentido —
e a vida não é dura e arde sem parar.

Aqui o sol torrando meu flanco esquerdo.
Ele queima.
Eu queimo.
Cada fibra do meu corpo grita por socorro.
Mas ninguém me ouve.
Por que estou aqui?

Meu olho direito nada vê, esmagado contra a areia.
Com a cauda açoito o chão,
como se apenas a força dos meus músculos pudesse me arrancar deste leito abrasador
e me devolver ao lugar a que pertenço.

À água.
À água da minha terra.
À água que carrega o canto dos pássaros e o murmúrio das palmeiras.

Ofegante, contorço-me mais uma vez na areia escaldante.
Desta vez, olhos e boca estão cerrados.
Minha cauda já não se move.
Cada fibra do meu pequeno corpo cede.

O ar continua a tremular,
mas o horizonte desapareceu.

Eu já não estou mais aqui.

Minha terra tinha águas.
Águas doces, mornas, suaves.
Águas onde meu corpo deslizava sem esforço.
Águas onde incontáveis outros viviam como eu.
Águas onde tudo fazia sentido —
e a vida não era dura e ardia sem parar.

Que sem sentido.


Saturday, 1 March 2025

 




Fahrradkette

 

Sie hätte ja nur was sagen müssen…

(Er hat Videos davon.)

Sie hätte ja nur unterschreiben müssen…

(Er hat meinen Kopf gegen die Wand geknallt.)

Sie hätte ja nur eine Anzeige machen müssen…

(Er hat alle meine Dokumente.)

 

Sie hätte ja nur …

 

Sie ist in der Pflicht.

Ihr Verhalten wird hinterfragt.

Ihr Erstarren macht sie verdächtig.

Ihr Nichtstun macht sie schuldig.

 

Und er?

 

Dass er sie süchtig gemacht hat.

Dass er sie beschimpft hat.

Dass er sie geschlagen hat.

Dass er sie bedroht hat.

Dass er sie gefilmt hat.

Dass er sie anderen angeboten hat.

Lächerlicht gemacht hat.

Kaputt gemacht hat.

Nihiliert hat.

Zu einem Schatten.

Einem Hauch Mensch.

Einer wandelnden Erinnerung.

 

Sie hätte ja nur …

Und er?

Monday, 28 October 2024

Statue




Boiling from the inside 
hearing loud noises 
hammering nonstop in my skull 
getting dizzy
and feeling my feet and arms numb 
feeling like screaming 
but not having any energy left for that.

Closing my eyes.
Turning into stone.

Saturday, 12 October 2024

Fly

So she did 

run in circles 

trying her best to find a way out

like a fly 

bumping on windows 

dying slowly 

until only her desiccated corpse remained.


So she did

vanish

and nobody noticed.


Tuesday, 23 April 2024

Stormborn!

Veio derrubando e
vem derrubando.

Vem enfiando todos os dedos 
em todas as feridas.

Veio derrubando e
vem derrubando.

Vem enfiando um espelho em todas as caras 
que encontra pelo caminho.

A é? 
Toma!

Veio derrubando e
vem derrubando.

Vem limpando o caminho
pra cura ter espaço.