Cebola
Esse mundo me dói.
Me dói e me corrói.
Como a ferrugem que comeu,
devagar e sem pressa,
o cano do banheiro
da casa velha que habito.
A casa que habito.
Não digo que vivo.
Porque a vida parece
que já passou.
Passou por mim como um vendaval,
me arrasou,
apesar de todas as forças
que juntei para me manter em pé.
Aprendi que
o que é duro,
quebra mais fácil —
Mas aprendi tarde.
Aconteceu o que mais temia:
eu amarguei.
Amarguei como cebola queimada.
Aquela que, ao invés de doce e gostosa,
fica dura e horrorosa,
e ainda deixa o gosto amargo
em tudo ao redor.
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