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Saturday, 6 September 2025

 



The place to be

Minha terra tem águas.
Águas doces, mornas e suaves.
Águas onde meu corpo desliza sem esforço.
Águas onde incontáveis outros vivem como eu.
Águas onde tudo faz sentido —
e a vida não é dura e arde sem parar.

Mas aqui,
ofegante, contorço-me na areia escaldante.
Olhos e boca escancarados.
Cada grão de areia se crava nas escamas de brilho prateado que cobrem meu corpo.
Alguns, por menores que sejam, cortam mais fundo que outros.
Cada movimento desloca meu peso, empurrando os grãos cortantes ainda mais contra a pele.

O chão irradia um calor que parece assar meu corpo indefeso de baixo para cima.
O ar tremula, transformando o horizonte em miragem que se desfaz no céu.
Que lugar sem sentido.

Minha terra tem águas!
Águas doces, mornas, suaves.
Águas onde meu corpo desliza sem esforço.
Águas onde incontáveis outros vivem como eu.
Águas onde tudo faz sentido —
e a vida não é dura e arde sem parar.

Aqui o sol torrando meu flanco esquerdo.
Ele queima.
Eu queimo.
Cada fibra do meu corpo grita por socorro.
Mas ninguém me ouve.
Por que estou aqui?

Meu olho direito nada vê, esmagado contra a areia.
Com a cauda açoito o chão,
como se apenas a força dos meus músculos pudesse me arrancar deste leito abrasador
e me devolver ao lugar a que pertenço.

À água.
À água da minha terra.
À água que carrega o canto dos pássaros e o murmúrio das palmeiras.

Ofegante, contorço-me mais uma vez na areia escaldante.
Desta vez, olhos e boca estão cerrados.
Minha cauda já não se move.
Cada fibra do meu pequeno corpo cede.

O ar continua a tremular,
mas o horizonte desapareceu.

Eu já não estou mais aqui.

Minha terra tinha águas.
Águas doces, mornas, suaves.
Águas onde meu corpo deslizava sem esforço.
Águas onde incontáveis outros viviam como eu.
Águas onde tudo fazia sentido —
e a vida não era dura e ardia sem parar.

Que sem sentido.


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