Kika
E agora, Kika?
O tempo acabou,
sua luz apagou,
a esperança sumiu,
o coração esfriou,
e agora, Kika?
e agora, você?
você que só trabalha
que faz pelos outros,
você que se esforça,
que ama, protesta?
e agora, Kika?
Está sem energia
está sem dinheiro,
está sem saúde,
já não pode correr,
já não pode dançar,
mudar já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o prêmio não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo quebrou
e tudo mofou,
e agora, Kika?
E agora, Kika?
Sua doce palavra,
seu momento de plantar,
sua vontade de fazer,
sua sabedoria,
sua lavra de ouro,
sua atitude,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para casa,
Casa não há mais.
Kika, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
o hino da revolução,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é dura, Kika!
Sozinha no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem uber nenhum
para te levar,
você marcha, Kika!
Kika, para onde?
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