Acreditei que esse dia nunca chegaria.
Fiz de tudo para mantê-lo distante.
Dias viraram meses,
meses viraram anos —
coloridos, barulhentos —
e ela não tinha nome dentro de mim.
Era como se tudo estivesse certo.
E estava mesmo.
Como se não houvesse diagnóstico.
Como se a força do querer
tivesse sido suficiente para vencer.
A ilusão era perfeita.
Mas, em silêncio, ela me drenava.
Sem ruído, roubava minha energia.
Minhas muralhas, outrora sólidas,
minhas torres,
começaram a ceder.
Sem alarde.
Sem aviso.
Implacável.
Até que, um dia,
ela esteve diante de mim.
Inteira. Presente.
Olhou-me fundo —
não havia como desviar.
“Olá”, disse.
“Até quando vai fingir que eu não existo?”
“Você não vê que está de joelhos?”
Silenciosa e, ainda assim, irresistível,
ela tomou o meu corpo.
Fez-me crer.
Como faz a mãe que permite ao filho acreditar
apenas para conduzi-lo com mais facilidade.
E eu sigo.
Cabeça erguida.
Queixo à frente.
De joelhos.
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